De A a Z para a Música na Educação

De A a Z para a Música na Educação... por Helena Rodrigues

Helena Rodrigues

Helena Rodrigues é professora do Departamento de Ciências Musicais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Investigadora do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical, fundou o Laboratório de Música e Comunicação na Infância.

Efetuou estudos de Doutoramento com Edwin Gordon, divulgando a sua teoria de aprendizagem musical desde 1994. Colwyn Trevarthen é outra relevante influência no seu trabalho. Com uma formação de base nas áreas da Psicologia e da Música, tem se interessado também pelas áreas do teatro físico e dos efeitos terapêuticos da música. O conjunto destes e outros saberes tem-na levado a formular uma proposta original de formação, visando contribuir para uma melhoria dos cuidados na infância. Foi Researcher Fellow da Royal Flemish Academy of Belgium for Science and the Arts.

É diretora artística da Companhia de Música Teatral. Coordenou o projeto Opus Tutti, coordenando atualmente o projeto GermInArte, ambos financiados pela Fundação Calouste Gulbenkian. Autora de publicações de natureza diversa, é frequentemente convidada para apresentar conferências e workshops em Portugal e no estrangeiro.

Clique no seguinte link para ler este A a Z:

A

de afecto. Ou de Atalaya. Ou de amor. É quase só o que faz falta na educação. Desde os primeiros anos de vida ao ensino superior. Breve história: “ - Aprendi muito com aquela professora! Ela até me ensinou a usar desodorizante!”. Com o Maestro José Atalaya muitos despertaram para a música com ele. Tenho-o procurado. Ninguém sabe dele. Por onde andam os nossos afetos?

B

de Bebé Babá. Um projeto que me transformou. Um projeto que ajudei a construir depois de ter ouvido o seu nome, soprado por uma voz íntima. Depois das sombras dos primeiros gestos criativos (a criatividade é quase sempre uma superação da penumbra), tudo foi luminoso: equipa fantástica, o acaso a trazer novas ideias, música a brotar naturalmente de corpos rompidos por instintos maternais. Uma vontade de viver espelhada num canto coletivo refletindo a afirmação de uma das Mães: “Sinto que já não somos apenas as Mães ou os Pais dos nossos filhos, mas de todos os bebés aqui presentes”.

A primeira edição deste trabalho aconteceu em 2001. Em 2008 foi realizada uma edição especial no Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo para mães reclusas e seus bebés. Sobre esta edição está disponível o documentário https://vimeo.com/45629362 (Password: BetterWorld)

C

de Companhia de Música Teatral. De muita gente - Ver http://www.musicateatral.com ;
Ver também: https://vimeo.com/cmusicateatral

D

de disciplina. É quase só o que faz falta na educação.
Lembrado por Berry Brazelton, cuja passagem por Portugal devemos ao pediatra João Gomes Pedro.

E

de Encontro. Encontro Internacional Arte para a Infância e Desenvolvimento Social e Humano. Vai na VII edição. Um espaço de reflexão e partilha. Ver: http://www.musicateatral.com/germinarte/

F

de Ferrão. Ana Maria Ferrão. Presença linda no mundo da música para a infância. Diplomada com o Curso Superior de Piano, Ana Maria Ferrão estudou com Willems, tendo sido professora na antiga Escola do Magistério Primário e na Escola Superior de Educação de Lisboa. Muitos educadores e músicos foram ou continuam a ser formados por si. Tocados pelo seu estilo delicado, doce e sabiamente focado no essencial. Coautora de Sementes de Música. Ver: https://www.wook.pt/livro/sementes-de-musica-paulo-ferreira-rodrigues/205152

G

de Gordon. Edwin Elias Gordon (1927-2015), autor do que é comummente designado como “teoria de aprendizagem musical”.
Muito à frente do seu tempo nas ideias sobre a aprendizagem musical de recém-nascidos e crianças em idade pré-escolar. Conheci-o em 1994, tendo tido o privilégio de ter realizado estudos de doutoramento sob a sua co-supervisão. Grande mestre e amigo, as suas ideias têm influenciado uma parte significativa do trabalho do Laboratório de Música e Comunicação na Infância do CESEM e da Companhia de Música Teatral.
Entre 1995 e 2008 apresentou regularmente as suas ideias em encontros e seminários em várias cidades portuguesas (e também na Galiza). Marcou uma geração de estudantes e professores que hoje se distinguem pelo relevo dado à improvisação e à construção de um “pensamento musical” próprio. Marcou e continua a marcar as práticas musicais e artísticas do nosso País.

H

de Helena Sá e Costa. Piano. Presença. Professora. Mestre. Um sorriso ao subir da escada. Recordação boa, suave. O ensino para além do tempo de vida. Escola

I

de imaginação. Há muito, muito tempo, um menino disse: “basta um pinguinho de imaginação para se fazerem coisas espetaculares!” https://run.unl.pt/bitstream/10362/12568/1/Spidaranha_imaginacao.pdf

J

de Jorge. De Jorge Parente e do seu trabalho de corpo e voz. Um trabalho cheio de musicalidade e de abertura à Vida. Ver: http://jorgeparente.com.

K

de Kundera. “A insustentável leveza do ser” de Milan Kundera marcou as leituras da minha juventude. Agora, depois do tempo se ter encarregue de arrumar o argumento nos subterrâneos da memória, lembro-me de uma escrita orquestrada com sonhos e música evocada pelo autor.

L

de Lyl. Na casa de Lyl Tiempo moram vários pianos. Crescem no meio de buganvílias cor-de-rosa, tocados pelos filhos (os pianistas Sergio Tiempo e Karin Lechner), pela neta (a pianista menina prodígio Natasha Binder) e muitas crianças que aí dão os primeiros passos na arte de amar a Música. Na casa vizinha, moram os pianos de Martha Argerich. Imagino que também estes floresçam no meio de buganvílias, outras flores e trepadeiras ligando a terra e o céu. O filme “La calle de los pianistas” dá-nos conta desse privilégio tão especial que é fazer música com a família e os amigos. Trailer em: https://www.youtube.com/watch?v=mUtF-AASTzk

M

de McFerrin. Só voz e corpo. A essência. A frugalidade. Tanta música só na presença! O equivalente, talvez, ao que no teatro ficou designado como “teatro pobre”. Ver, por exemplo, com a nossa Maria João: https://www.youtube.com/watch?v=4boy-eXQBHg

N

de NOAH. Criação da Companhia de Música Teatral (CMT) com estreia em Outubro de 2017, em coprodução com a Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, o Cine-Teatro Alba e o Teatro Aveirense. O ponto de partida de NOAH é a história que a nossa cultura nos contou, a mesma da Arca de Noé: um mundo em desmoronamento devido à ação do Homem. Do ponto de vista musical, NOAH propõe uma viagem por vários territórios e sonoridades, revelando a Arca enquanto metáfora da convivência e da diversidade. Violoncelo, flautas, saxofone, eletrónica e vozes são alguns dos recursos sonoros e o discurso musical não hesita em mudar de rumo e tocar tanto em territórios prováveis como improváveis. A peça baseia-se no trabalho criativo que foi feito com a CMT-kids, com uma gestação final acolhida pelo Teatro Aveirense. Espelha a “voz” de cada uma das crianças/adolescentes envolvidas no projeto, emanando diretamente dos seus talentos e interesses num processo de “diálogo” com o compositor Paulo Maria Rodrigues.

O

de orelha. Uma palavra mágica. O-re-lha. Ooooo-éeeeee-áaaa. Uma palavra com forma de montanha. Uma palavra com forma de curva normal com um pequeno desvio à direita. Lembro-me bem de um dia a ter dito por acaso, e o meu pequeno músico, de cerca de ano e meio, a ter agarrado, ainda a vibrar no ar. Olhou-me com a doçura de um sorriso, como se do céu tivesse caído uma pérola sonora. Depois soletrou a palavra emergente, repetiu-a como quem entoa um mantra. É possível que nessa manhã, atolado nas cores de consoantes e vogais, não tenha ainda ligado o som ao objeto. Mas que importa? No instante daquele seu espanto revelou-me que a nossa primeira relação com a aprendizagem da língua materna é de ordem musical.

P

de Paluí. Mundo fantástico de Helena Caspurro. “Se queres saber o que é o Paluí... põe o teu dedo aqui:” https://www.youtube.com/watch?v=kyV-sS4iX5I

Q

de Quintana. Especialmente delicioso o seu “Poeminho do Contra”: Todos esses que aí estão/ Atravancando o meu caminho, / Eles passarão…Eu passarinho!”

R

de respeito. O que é o respeito pela cultura de outros povos? Oiçamos o som dos batuques num aerograma de António Lobo Antunes: http://3.bp.blogspot.com/-HZw5KPCPKCI/UIv06ogpOVI/AAAAAAAABa4/4JifcTiPvYE/s1600/aerograma2.jpg

S

de silêncio. Silêncio, a primeira condição para o nascimento da música. Silêncio, o lugar para onde converge a música que nos harmoniza. Que bom ficar à escuta seguindo o rasto da reverberação!

T

de Trevarthen. Colwyn Trevarthen, professor Emérito da Universidade de Edimburgo, é um dos mais destacados pioneiros do estudo da infância e da proto-comunicação.
A partir de estudos que mostram que a comunicação entre mães e bebés envolve padrões de tempo, pulsação, timbre e gesto que parecem seguir, de forma não intencional, muitas das regras que caracterizam a performance musical, Colwyn Trevarthen desenvolveu (em parceria com Stephen Malloch) o conceito de musicalidade comunicativa. De acordo com esta ideia, as primeiras comunicações humanas, estabelecidas entre os bebés e os que lhe estão próximos, regem-se sob uma organização intrínseca e simpática de movimentos e gestos (corporais e vocais), seguindo princípios de natureza musical. Em 2003, teve lugar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa um “encontro histórico” entre Edwin Gordon e Colwyn Trevarthen. Desde então, tem sido uma grande fonte de inspiração para o trabalho realizado no Laboratório de Música e Comunicação na Infância do CESEM e da Companhia de Música Teatral. É mentor honorário do projeto GermInArte. (http://www.musicateatral.com/germinarte)

U

de Ursa Maior. Professores, músicos e educadores de todo o Mundo!: - Reivindiquem o dever de ter tempo para contemplar a Ursa Maior!

V

de vocalização. O estudo de vocalizações de bebés é um fascinante tema de investigação, com implicações quer para o estudo da aquisição da língua materna (ou outra) quer para o estudo da aquisição da voz cantada. Ver, por exemplo:
https://doi.org/10.1177/0255761411408507
https://doi.org/10.1177/0305735617719335
Mas há ainda muito para descobrir no que diz respeito ao desenvolvimento vocal na primeira infância.

W

de Wagner. Depois de cantado, o tema do Tannhauser nunca mais nos larga. Fica dias seguidos a soar dentro de nós (fenómeno este a que a Psicologia da Música dá o nome de “brain worms” ou “ear worms”). Outras das suas obras são igualmente fantásticas. Mas, verdadeiramente, quando alguém evoca o seu nome, a memória que me chega primeiro é a da pequena estatueta preta que me deu a minha primeira professora de piano.

X

de Projecto X. Teve já várias edições, sobrevivendo à “incompreensão curricular”. Um trailer da edição de 2017 – https://vimeo.com/227909753 – dá uma ideia de como a arte pode oferecer espaços para a criação de universos onde as diferenças se esbatem e se procura a essência do que nos faz humanos. Espécie de manifesto por uma arte feita em comunidade e com capacidade de poder chegar a todos os indivíduos, independentemente da sua condição social, género, idade ou cultura.

Y

de d’Orey. Todo o dia procurei um y. Que não, ou não estava, ou não me servia, ou fugia espavorido com a minha pouca habilidade de me intrometer na vida organizada das letras. Foi então que decidi sair do trilho como sempre sucede quando estou em apuros. Custasse o que custasse haveria de encontrar um! Encontrei-o ao fim da rua, morada de Francisco d’Orey. Músico de muitas vidas a quem perdi os rastos. Não sei por onde encaminhou todas as letras do seu nome, mas bastou uma para me lembrar dele, do seu entusiasmo pela música e pela vida.

Z

de ZYG. ZYG de zigótico.
Útero-ovo-esqueleto-dinossauro-concha-barco-berço.
Ver: http://www.musicateatral.com/zyg

A APEM

A Associação Portuguesa de Educação Musical, APEM, é uma associação de caráter cultural e profissional, sem fins lucrativos e com estatuto de utilidade pública, que tem por objetivo o desenvolvimento e aperfeiçoamento da educação musical, quer como parte integrante da formação humana e da vida social, quer como uma componente essencial na formação musical especializada.

Cantar Mais

Cantar Mais – Mundos com voz é um projeto da Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM) que assenta na disponibilização de um repertório diversificado de canções (tradicionais portuguesas, de música antiga, de países de língua oficial portuguesa, de autor, do mundo, fado, cante e teatro musical/ciclo de canções) com arranjos e orquestrações originais apoiadas por recursos pedagógicos multimédia e tutoriais de formação.

Saiba mais em:
http://www.cantarmais.pt/pt

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