De A a Z para a Música na Educação

De A a Z para a Música na Educação... por Janete Ruiz

Janete Ruiz

Janete Costa Ruiz

Diplomada em Canto pela Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo. Dedica-se à prática coral infantil, com particular interesse na abordagem à composição contemporânea para coros infantis e na introdução do movimento e das metáforas como estratégia globalizante do trabalho coral e veículo de desenvolvimento artístico e expansão de horizontes musicais. Frequentou formação com Basilio Astulez e Elisenda Carrasco e no âmbito da Europa Cantat (Voz e movimento- Bergen, 2014; improvisação e composição coral; corpo, movimento e voz- Tallin, 2018), e da International Federation for Choral Music (Barcelona, 2017). É fundadora e diretora artística dos Jovens Cantores de Guimarães desde 2011, com os quais tem desenvolvido um intenso programa coral a nível nacional e internacional.

Janete Costa Ruiz desenvolve paralelamente uma carreira solista com particular incidência no repertório camerístico e em diversos ensembles vocais e coros (Ensemble Clepsydra, Grupo de Câmara do Porto, Coral de Letras, Coro Casa da Música), com os quais se apresentou em concertos em Portugal (Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim), Espanha (Festival de Música de Ubeda e Baeza), Inglaterra (Haendel Festival) e Holanda (Fringe- Oude Musik).

Licenciada em História da Arte pela Universidade do Porto, é também mestre em Ciências Musicais pela Universidade de Coimbra e doutorada em Estudos da Criança (variante Educação Musical) pela Universidade do Minho (2019). Tem publicados diversos artigos sobre pedagogia coral e sobre o coro como entidade performativa.

É Professora Convidada na Universidade do Minho. Leciona no Conservatório de Guimarães.

Clique no seguinte link para ler este A a Z:

A

de ACORDE.

Seja ele maior ou menor, mais ou menos dissonante, um acorde desperta num músico a capacidade de construir uma sonoridade específica a partir de sons isolados. No âmbito da música coral, a sensação de preencher uma harmonia ou um cluster com a “nossa” nota é uma metáfora poderosa do nosso “lugar” no edifício musical. Daí a importância do canto coletivo na educação musical: não só porque educa o ouvido e a voz mas porque indiretamente transmite um sentido, uma ordem, um lugar ao individuo no seio do grupo.

B

de BACH, Johann Sebastian.

Sem poder fugir a um lugar-comum, a música de J.S. Bach consubstancia para mim a ideia de perfeição absoluta, a fusão entre símbolos, ideia musical, harmonia e emoção. Interpretar Bach, cantando (ou dirigindo) é das maiores e mais profundas experiências que vivi enquanto intérprete. Também é uma excelente companhia de viagem ao atravessar o Alentejo numa tarde de verão.

C

de CANTAR.

O povo, sábio, diz que “quem canta seus males espanta” e, de facto, devo ao canto – e ao CORO - a minha descoberta musical (e pessoal) interior e a definição de uma vocação musical. Enquanto atividade, o canto deve estar presente desde muito cedo na vida de todas as crianças, para que cantar possa ser uma expressão individual dos seus sentimentos, pensamentos e desejos. Por isso destaco também o Projeto CANTANIA, um projeto coral participativo com 30 anos de existência e que desde 2017 põe as crianças das escolas de ensino básico do concelho de Guimarães a cantar. Para quando um Portugal que cante?

D

de DIREÇÃO CORAL.

Uma paixão descoberta e um encontro feliz que demorei a integrar, mas que me complementa enquanto intérprete e me possibilita uma experiência de partilha musical única. A experiência da Direção evoluiu naturalmente da minha vivência como solista e como cantora de diversos projetos corais e como tal, procuro uma simbiose entre as aprendizagens que fiz ao longo de mais de 20 anos, e a leitura e interpretação da partitura global. Sempre em busca de um equilíbrio sonoro próprio, adequado e autêntico, que resulte de uma participação individual ativa de cada cantor e do sentido do texto, procuro que cada cantor se identifique com aquilo que canta, dando o seu contributo pessoal. Só assim se faz uma verdadeira ligação afetiva e efetiva à música.

E

de ENSEMBLE CLEPSYDRA.

Um sexteto vocal cuja atividade me leva a descobrir a riqueza musical, literária e simbólica da polifonia renascentista sob a sábia direção do maestro José Luís Borges Coelho. E de EMPATIA, capacidade humana imprescindível para se ser músico... e pedagogo!

F

de Dietrich FISCHER-DISKAU.

O Príncipe do Lied. Com ele a respiração torna-se obra de arte. Ouça-se o magnético Du bist die Ruh de Schubert: depuração pura da palavra. Uma obra que uso frequentemente para exemplificar o sentido de legato e a frase musical ligada à expressão do texto (tão dificil!)

G

de GOSTO.

Acredito que se pode educar o gosto. Ênfase colocada na diversidade de fontes, estilos, geografias, para que não se continue apenas a fazer música de compositores brancos e falecidos.

H

de HOLÍSTICO.

Porque a realidade do Homem não é uma simples soma de partes mas um resultado bem maior e supra-material. Na educação e na música a dimensão holística do indivíduo deve ser cuidada e integrada, para que a aprendizagem seja verdadeiramente significativa e a vivência artística real.

I

de IMAGÉTICA.

Temática que tenho estudado nos últimos anos e cuja função pedagógica me fez descobrir um mundo de possibilidades comunicativas quase infinitas. As IMAGENS e as Metáforas são poderosos processos mentais que traduzem conceitos e sentidos que emanam da vivência corporal e cultural e, quando usadas num contexto pedagógico, são ferramentas muito úteis e criativas.

J

de JOVENS CANTORES DE GUIMARÃES.

Um projeto artístico que desde 2011 se desenvolve em Guimarães e de lá por palcos nacionais e internacionais, onde dia a dia se constroem artistas de palmo-e-meio. São a minha voz artística e o resultado de um esforço de criação de uma educação artística baseada na prática coral, acessível a todas as crianças.

K

de KINESIS.

O conceito grego de movimento, presente em toda a realidade humana e natural, recorda-me sempre a lógica do devir, da mudança: da transferência do conhecimento à passagem tempo.

L

de LIVRO.

Desde que me lembro estive sempre rodeada de livros. Posso mesmo dizer que sou uma leitora compulsiva, chegando a fazer verdadeiras maratonas de leitura (a mais radical: ler os 4 volumes de “As Brumas de Avalon” em 5 dias! Eram as férias de verão e chovia… ) A paixão pela literatura está sempre presente e acompanha muitas das minhas escolhas musicais. Frequentemente sou levada a uma determinada obra pela descoberta do texto e procuro ter sempre como guia interpretativo o sentido literário anterior à obra musical. Para mim é fundamental que um texto musicado tenha qualidade intrínseca (seja poesia ou prosa). Se não for assim, dificilmente consigo trabalhar musicalmente um obra. Curiosamente (ou não…) as crianças são muito mais sensíveis à beleza e qualidade dos textos do que se pensa…

M

de MOVIMENTO.

Tudo na natureza está em movimento. Assim sendo, porque fazer música de forma estática? A introdução do estudo do movimento e da consciência corporal do mesmo faz parte da minha filosofia pedagógica e musical. Enquanto ferramenta pedagógica, o movimento é um precioso auxiliar de aprendizagem sensorio-motora, essencial numa vocalidade saudável, ativa e centrada no corpo como instrumento. Em paralelo, está subjacente ao conceito de coro performativo, uma entidade simultaneamente musical e teatral que age com propósito artístico. Importa salientar que aquilo que parece ser uma corrente “da moda”, na realidade não o é. As raízes são bem longínquas (podemos recuar até ao Coro grego clássico) e resultam na construção de uma linguagem comum entre a Dança e o Canto, unidas num resultado sonoro e visual coerente.

N

de NÃO.

Numa sociedade perfeccionista e individualista como aquela em que vivemos, muitas vezes sinto a necessidade de me impor diversos “nãos”: não duvidar a ponto de não fazer, não desistir, não dizer sempre sim, não deixar de questionar, não fazer juízos de valor. É muito difícil, mas traz alguma paz interior. E, por vezes, alguns sim aparecem…

O

de OPORTUNIDADE.

Acredito que a oportunidade faz a possibilidade. Haja tempo para encontrar momentos de reflexão junto dos alunos sobre algo de interessante que surge num trecho musical, numa canção, numa sonata. Faça-se a ponte com a realidade de cada um, apele-se à imaginação, à criatividade.

P

de PALCO.

Recordo muitas vezes as palavras de um maestro que muito admiro: “o palco é esse lugar mágico onde podemos ser e fazer tudo!” E nesse lugar mágico (mesmo sagrado, segundo alguns) há todo um mundo de possibilidade, que devemos abordar com grande respeito, trabalho e honestidade. E abertos ao imponderável... afinal aquilo que nos faz voltar uma e outra vez ao palco!

Q

de QUESTIONAR.

A tarefa mais difícil. Porque nos põe em causa, nos faz duvidar das práticas testadas e (a)provadas, porque obriga a sair da zona de conforto e a abordar terreno novo. Quero continuar a ser terrivelmente questionadora.

R

de RUÍDO.

Cada vez me perturba mais a imposição do som a que somos sujeitos na nossa vida urbana. E que, obrigatoriamente, gera muito ruído interior- mental, emocional- e stress. Procuro cuidar-me fugindo para o silêncio das montanhas.

S

de SAÚDE VOCAL.

Uma questão ainda pouco abordada e para a qual ainda poucos profissionais estão sensibilizados: a saúde vocal das nossas crianças e jovens. Não é normal uma criança ter voz rouca, um timbre nasalado ou apresentar patologia vocal em idade precoce e esta ser negligenciada por puro desconhecimento. Urge uma formação especializada neste âmbito que possibilite aos professores de ensino básico identificar situações que merecem atenção especializada de pediatras e terapeutas. E de SILÊNCIO. O bem mais precioso para um músico.

T

de TALLIN.

Visitei a capital da Estónia no âmbito do festival Europa Cantat em 2018 e foi impossível não ficar fascinada pelo papel da música coral no seio de um país. Para quem assistiu à queda do Muro de Berlim e a toda a profunda transformação política que se viveu na Europa na última década do século XX, foi emocionante perceber como um povo lutou e conquistou a sua independência graças à manutenção de uma força cívica mantida em torno das suas tradições corais - desde o século XIX- culminando na chamada “ Revolução Cantada” de 1991 em que os países bálticos conquistaram a independência política e cultural. A “Song and Dance Celebration” que se realiza a cada 5 anos é, ainda hoje, a maior concentração humana num evento artístico à escala mundial. Vale a pena fazer a viagem para perceber como um povo canta tão naturalmente como respira!

U

de ÚNICO.

Cada criança é UM mundo ÚNICO. É fundamental trabalhar para e com essa unicidade, conhecendo os interesses e capacidades e potenciando-as.

V

de VOZ.

Pessoal e intransmissível, a voz diz tudo sobre o que somos e como somos. Enquanto instrumento musical, é o primeiro e o último, o mais natural de todos, aquele que se veste diariamente e traduz todas as nossas vivências. E é tanto mais eficaz musicalmente quanto se une e funde com outras vozes – o efeito potenciador do grupo que explica a capacidade de crianças e jovens serem capazes de interpretar partituras de nível de dificuldade altíssimo. Unida a outras vozes pode ser um poderoso instrumento de transformação social, pelo que dar voz às crianças e jovens é fundamental para compreender os seus mundos e vivências. Recordo a investigadora Marie-France Castarède: “Para o filho do Homem, o acesso ao Mundo é acesso à voz: é o grito primário ou palavra de vida (…) Fazer ouvir a sua voz, palrar, falar, cantar, rir ou chorar é viver como sujeito no mundo dos homens”.

W

de WALT DISNEY.

Posso dizer que me apaixonei pelos livros a partir das coletâneas da Disney que folheava ainda antes de saber ler. E foi com a “Fantasia” que começou a minha educação musical, quando descobri a “Sagração da Primavera” e “O Aprendiz de Feiticeiro”.

X

de X de aposta.

Não como uma roleta russa mas como uma aposta ganha. A aposta da Cultura e da Educação que ainda falta cumprir-se. E o X do voto, arma fundamental na sociedade que se quer democrática, viva, ativa e comprometida.

Y

de YOUTUBE.

Um precioso aliado nos nossos dias..

Z

de ZEN.

Relaxamento, mente aberta, concentrada, sem tensão. Estar presente, no “agora”, sem ruminações. Uma aprendizagem.

A APEM

A Associação Portuguesa de Educação Musical, APEM, é uma associação de caráter cultural e profissional, sem fins lucrativos e com estatuto de utilidade pública, que tem por objetivo o desenvolvimento e aperfeiçoamento da educação musical, quer como parte integrante da formação humana e da vida social, quer como uma componente essencial na formação musical especializada.

Cantar Mais

Cantar Mais – Mundos com voz é um projeto da Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM) que assenta na disponibilização de um repertório diversificado de canções (tradicionais portuguesas, de música antiga, de países de língua oficial portuguesa, de autor, do mundo, fado, cante e teatro musical/ciclo de canções) com arranjos e orquestrações originais apoiadas por recursos pedagógicos multimédia e tutoriais de formação.

Saiba mais em:
http://www.cantarmais.pt/pt

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