De A a Z para a Música na Educação

De A a Z para a Música na Educação... por Brendan Rui Hemsworth

Brendan Rui Hemsworth

Músico, percussionista e educador, sempre encarou a música e o seu ensino como duas faces da mesma moeda. Fez o Curso de Percussão na Escola Profissional de Música de Espinho, licenciou-se em Produção e Tecnologias da Música na E.S.M.A.E., e tornou-se Mestre em Ensino de Música pela Universidade de Aveiro.

As suas experiências no ensino passaram pela Escola de Jazz do Porto, pelo Instituto Orff do Porto, e pelo 3º ciclo, onde foi professor das disciplinas de Música e Área de Projecto. Pelo caminho colaborou com o Serviço Educativo da Casa da Música. Atualmente leciona bateria no Curso de Música Silva Monteiro, e Percussão e Classes de Conjunto no curso da Licenciatura em Formação Musical da Escola Superior de Educação do Porto.

Colaborou em projetos ligados à Dança (Ballet Teatro), Teatro (Seiva Trupe / Teatro Nacional D. Maria II), Cinema (Anilupa), Poesia (Sindicato da Poesia). Tocou com Raul Marques e os Amigos da Salsa, O Sexteto de Mário Barreiros, Pedro Abrunhosa e os Bandemónio, Clã, Ornatos Violeta, Stealing Orchestra, Peixe, Manel Cruz e Foge Foge Bandido, entre outros. Produziu o álbum Paluí de Helena Caspurro. No âmbito da música experimental tem colaborado em projetos da Associação Sonoscopia e tocado com HHY & the Macumbas com quem atuou em festivais como o Primavera Sound, Milhões de Festa, Boom Festival, entre outros.

Clique no seguinte link para ler este A a Z:

A

de acústica. A compreensão dos fenómenos do som, seja ela empírica ou estudada, é uma parte importante na formação de um músico. Refiro-me, por exemplo, à forma como percecionamos a sala como uma extensão acústica do instrumento, e de que como essa interacção contribui para determinar o próprio carácter da música.

B

de bateria. Um dos instrumentos que moldou a música do século XX. Apesar de ser, ainda hoje, mais conhecida pela configuração popularizada por Gene Krupa, vejo-a como um instrumento-camaleão, em constante metamorfose, capaz de se adaptar aos variados géneros musicais em que se insere.

C

de composição. Parece-me importante que o ensino estimule os alunos a valorizarem mais as suas capacidades criativas, nomeadamente, no domínio da composição. Nas palavras de Frank Zappa, “a composição é um processo de organização, muito como a arquitectura. Desde que saibamos conceber o nosso próprio processo organizacional, poderemos ser compositores – em qualquer mídia.”

D

de documentação. Documentar experiências de vida, sob, por exemplo, a forma de um portfólio, com recurso ao áudio, ao vídeo, ou à escrita, pode ser uma forma importante de referenciarmos um percurso. Por mais desinteressantes que alguns registos nos possam parecer no momento, o tempo encarrega-se sempre de lhes atribuir a devida importância na definição do nosso rumo.

E

de experimentação. Tal como a investigação científica nos abre novas portas, na música, vejo a experimentação como uma forma de alargar horizontes. A música experimental não tem, necessariamente, que soar bizarra ou que ser efémera. Compreendo, em todo o caso, porque alguns levantam a questão da dimensão emocional subjacente. Talvez, por isso, em muitos contextos, se prefira designar a dita música experimental por “sound art”.

F

de funcional. Ao longo dos tempos, a humanidade sempre fez música com funções sociais bem específicas. Pensar a música de acordo com a função social que pretende servir, pode ser uma forma de trabalhar com os alunos diferentes registos de expressividade musical, fora da habitual lógica do género ou do gosto musical, normalmente ditada por velhos hábitos de escuta.

G

de gong. Um instrumento com imenso potencial, quer pela forma envolvente como permite preencher o espaço sonoro, quer pela riqueza harmónica que traz à música. O trabalho de João Pais Filipe, percussionista e criador de gongs e pratos, é um exemplo de uma procura por formas novas e personalizadas de conceber o instrumento.

H

de hiperinstrumento. O pensar a bateria enquanto instrumento composto por diferentes componentes que, embora fisicamente separados, se integram num todo orgânico, sugere-me que qualquer conjunto de fontes sonoras, coordenadas sobre uma só mente estruturante, possa dar corpo a um instrumento de características únicas. E que podemos projetar esse instrumento tanto em grande escala como numa micro-escala.

I

de interdisciplinaridade. Relaciono este termo com a ideia da música funcional: a música a relacionar-se com qualquer outro domínio. O pensar a música como um centro gravítico de uma filosofia de formação artística que pretenda por a música como motor de toda uma indústria criativa.

J

de Jazz. Apesar das inúmeras ramificações que este grande género musical produziu, e continua a produzir, podemos reconhecer ainda hoje, nas suas linhagens, o tributo aos antepassados, o que é, por si só, sinal de grandeza.

K

de Kotche. Glenn Kotche, além de ser conhecido por tocar com a banda Wilco e com Jim O´Rourke, é também um compositor e intérprete de obras para bateria/multipercussão de grande interesse, destacando em particular os seus Drumkit Quartets, interpretados em colaboração com o grupo de percussão, Só Percussion.

L

de liberdade. Apesar de todas os constrangimentos de viver numa sociedade moderna, de todas as influências e vivências que nos vão moldando sem que nos demos conta, é a liberdade de escolha que define quem somos.

M

de multipista. Gosto de pensar no sistema de gravação multipista e no papel que assume enquanto suporte da criação musical dos nossos dias, como um fenómeno análogo à invenção do contraponto. A diferença é que, mais do que permitir justapor vozes, como o baixo, tenor, soprano...permite justapor eventos ou singularidades musicais. Um pouco como no cinema, razão, aliás, pela qual penso que a invenção da gravação multipista veio aproximar mais a música do cinema.

N

de Noise. O livro de Jacques Attali que repetidamente sinto a necessidade de ler e reler. Um retrato social, económico e cultural dos vários papéis da música no mundo ocidental.

O

de objeto sonoro. Porque um músico deve encarar qualquer objeto pelo seu potencial expressivo, seja ele encontrado numa estante de uma loja de instrumentos ou numa lata do lixo.

P

de play. Curiosa versatilidade semântica da lingua inglesa que transporta para o contexto da música a ideia de brincar. No português, a palavra “tocar” é também ela versátil em termos semânticos, já que quando tocamos um instrumento, mais do que tocar um instrumento, podemos tocar as pessoas que nos ouvem.

Q

de quartas paralelas. Uma forma interessante de harmonizar vozes, em alternativa à harmonia por terceiras e sextas.

R

de rádio. Num mundo cada vez mais governado pelo poder da imagem, a ideia de haver um canal de comunicação que sobreviva unicamente graças ao poder da palavra e da música parece-me incrível. A criação de programas de rádio é também ela uma ferramenta de grande interesse em projetos escolares.

S

de sentido. Uma palavra que me fascina pela sua riqueza de sentidos, passo a aliteração. De resto, são as palavras que nos tornam humanos - uma ponte entre o mundo sensível e o inteligível. Na música, as palavras, por vezes, vivem como mantras, pelo poder mágico da sua ressonância. Em outros casos ainda, podem ser descontextualizdas, fragmentadas e reduzidas a vocábulos esvaídos de sentido.

T

de tempo. A maior parte das vezes pensamos no tempo unicamente na sua dimensão cronológica. Acho fascinante a ideia de explorarmos outras formas de fabricarmos o nosso tempo, que transcendam o cronológico, e a sua lógica “tempo é dinheiro”. Talvez possa ser essa uma das mais nobres missões da música: a de nos ensinar outras formas de habitar o tempo e o espaço.

U

de urbano. O meu habitat natural. Por mais que precise de, regularmente, conectar-me com a natureza, é a selva urbana que habito, com as suas ruas, as suas casas, que molda a música que faço.

V

de voz. O instrumento musical mais perfeito que existe.

W

de Waits de Tom Waits. Um artista que admiro pelo sua poesia, sentido de humor e pela forma como cruza a canção com soluções de instrumentação menos convencional.

X

de xilofone. Um instrumento que continua a ter o seu papel na formação de músicos de todas as idades, por mais que os novos instrumentos possam exercer o seu papel sedutor.

Y

de Yoruba. Povo da África ocidental, de onde grande parte das tradições musicais afro-cubanas emergem.

Z

de Zappa. ZAPPA um dos meus primeiros ídolos musicais, inspirador na forma subversiva e acutilante como questionou paradigmas.

A APEM

A Associação Portuguesa de Educação Musical, APEM, é uma associação de caráter cultural e profissional, sem fins lucrativos e com estatuto de utilidade pública, que tem por objetivo o desenvolvimento e aperfeiçoamento da educação musical, quer como parte integrante da formação humana e da vida social, quer como uma componente essencial na formação musical especializada.

Cantar Mais

Cantar Mais – Mundos com voz é um projeto da Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM) que assenta na disponibilização de um repertório diversificado de canções (tradicionais portuguesas, de música antiga, de países de língua oficial portuguesa, de autor, do mundo, fado, cante e teatro musical/ciclo de canções) com arranjos e orquestrações originais apoiadas por recursos pedagógicos multimédia e tutoriais de formação.

Saiba mais em:
http://www.cantarmais.pt/pt

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