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Editorial da APEMNewsletter - Junho/Julho - 2020

Editorial da APEM Newsletter - Junho/Julho - 2020

Pensar no regresso às salas de música

Chegados a mais um final de ano letivo - este completamente atípico - olhamos e vislumbramos o próximo com o mesmo grau de incerteza com que temos vivido desde março.

Nos nossos editoriais, dos (já quatro) meses de distanciamento social, levantámos diversas questões e dimensões dos processos educativos em música, que abrangeram desde, a adaptação ao ensino à distância, às mudanças nas funções do professor e aos desafios e constrangimentos que se foram colocando, ao papel das famílias, à visibilidade do trabalho dos professores e à problemática da equidade e da exclusão que se revelou central neste período de confinamento.

Neste editorial, vamos dar conta de alguns aspetos que, muito provavelmente, se colocam no desejável regresso ao ensino presencial e, especificamente, à música na educação.

O documento do Ministério da Educação em articulação com as autoridades de saúde, referente às orientações para o próximo ano letivo, define uma estratégia que prioriza a prevenção da doença e minimização do risco de transmissão do novo coronavírus e que deve ser lido com toda a atenção1.

Essencialmente, as escolas devem elaborar o seu Plano de Contingência para a COVID-19 e um “plano de higienização que tenha por referência a Informação da DGEstE, com a orientação da DGS e a colaboração das Forças Armadas (“Limpeza e desinfeção de superfícies em ambiente escolar no contexto da pandemia COVID-19”)”.

Dois dos aspetos referidos e que levantam muitas questões para a música são: a obrigatoriedade do uso da máscara nas escolas, para todos e para os alunos a partir do 2º ciclo e o distanciamento social que deve ser mantido nas salas de aula de, pelo menos, 1 metro.

Se o uso da máscara em sala de aula de música, apesar de o considerarmos fundamental, limita as atividades de cantar e tocar instrumentos de sopro, o distanciamento social será praticamente uma ficção em turmas do ensino geral e em classes de conjunto do ensino artístico especializado, se o número de alunos por turma/grupo não for considerado. Conhecemos muitas salas de aula das nossas escolas e sabemos a inviabilidade de 25 ou mais crianças e jovens estarem afastados 1 metro neste tipo de espaço.

O ponto 4 do capítulo IV do documento em referência, especifica as situações em sala de aula, só que nessa especificação refere em cada ponto “sempre que possível”, “preferencialmente”, “sem comprometer o normal funcionamento das atividades letivas”. Ou seja, se não for possível, ou se a escola/direção/diretor não providenciar outra organização dos espaços e tempos letivos, tudo fica na mesma.

Ora o normal funcionamento das aulas de música implica essencialmente cantar, tocar, movimentar, experimentar/criar em grupo e apresentar/performance em grupo, o que coloca logo em risco todos os que estão numa sala de aula de música. No entanto, não podemos, nem queremos, alterar o que é essencial e estruturante numa aula de música, nem defendemos a realização de aulas de música em passividade o que só, por exemplo, seria possível com atividades de audição passiva e num paradigma de ensino centrado no professor.

Assim, neste quadro, e repensando o tempo e o espaço da música nas escolas como bem essencial para o equilíbrio e bem-estar social e emocional das crianças e jovens, considerámos exequível, um conjunto de práticas pedagógicas e organização educativa adequadas à aprendizagem musical, compatíveis com o momento atual e garantindo “uma progressiva estabilização educativa e social, sem descurar a vertente da saúde pública”1.

São estas as contribuições da APEM para o desenvolvimento da prática musical nas escolas, em segurança:

  1. Considerar o desdobramento de turmas de música;
  2. Entrar no espaço de aula ou ensaio sempre com máscara;
  3. Reorganizar a sala de aula de música para ganhar espaço, por exemplo, retirando mesas e colocando cadeiras em círculo, evitando a disposição que implique os alunos virados frente a frente, como recomendado no documento1;
  4. Ter sempre disponível um pano e desinfetante com álcool a 70% para mãos, instrumentos musicais e outros acessórios acústicos ou eletrónicos (estantes, pequena percussão, baquetas, teclados, mesas de mistura, microfones, etc.) cada vez que são usados;
  5. Nunca partilhar instrumentos de sopro e avisar os encarregados de educação das regras;
  6. Manter porta e/ou janelas abertas;
  7. Recorrer ao espaço exterior da escola – recreios - para atividades de movimento e trabalho por grupos;
  8. Recorrer aos auditórios;
  9. Incluir na planificação das atividades musicais o recurso a plataformas, software e aplicações já usadas e com bons resultados para uma comunicação assíncrona (ver página de recursos web da APEM2 e do Plano Nacional das Artes3, entre outras);
  10. Planificar considerando que algumas atividades de performance musical podem ser gravadas pelos alunos para partilha em sala de aula e/ou enviadas ao professor.
  11. Adaptar instrumentos de avaliação às práticas pedagógicas adotadas e considerar a avaliação formativa no centro dos processos de ensino e aprendizagem.

Uma última nota informativa: várias organizações internacionais de artes performativas, entre elas a ISME, uniram-se para encomendar um estudo sobre os efeitos do COVID-19 no regresso às salas de ensaios. É importante entender quais os riscos que existem nas salas de aula de artes performativas e nos locais de espetáculos. Especificamente, o estudo examinará as taxas de aerossol produzidas por instrumentistas, vocalistas e até atores, e a rapidez com que esses aerossóis se acumulam no espaço.

Os resultados preliminares para sopros de madeira e metais estão disponíveis aqui: https://www.nfhs.org/articles/unprecedented-international-coalition-led-by-performing-arts-organizations-to-commission-covid-19-study/, enquanto os resultados preliminares para canto e teatro são esperados para 25 de julho. Vá acompanhando os resultados do estudo nesta página. 4

A APEM, preocupada com esta problemática, dirigiu uma carta ao Senhor Secretário de Estado Adjunto e da Educação, Doutor João Costa com o teor deste editorial.

A APEMNewsletter regressa em setembro com novidades. Desejamos umas boas férias para todos, com votos de muita saúde!

1 https://www.dgeste.mec.pt/wp-content/uploads/2020/07/Orientacoes-DGESTE-20_21.pdf

2 https://apem.org.pt/apoio-ao-professor/recursos-web/

3 https://www.pna.gov.pt/recursos-educativos/

4 https://www.nfhs.org/articles/unprecedented-international-coalition-led-by-performing-arts-organizations-to-commission-covid-19-study/

Manuela Encarnação


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