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Editorial da APEMNewsletter - Novembro - 2020

APEMNewsletter Novembro de 2020

Projetos criativos e críticos na aula de música: 50 anos de Som e Silêncio (II)

Como prometido, retomamos o tema do editorial do mês passado por considerarmos que vale a pena dispensarmos mais algum tempo nesta nova obra. Tal como a publicação de John Paynter (1970) Sound and Silence há 50 anos, também este livro poderá ser um marco para o pensamento e evolução da educação musical.

Enquanto a primeira parte do livro revisita o pensamento de Paynter, a segunda parte traz-nos reflexões críticas sobre as ideias do seu trabalho e de Aston, à luz dos estudos que emergiram nestes 50 anos, trazendo-nos, sem deixar de problematizar, as novas perspetivas sobre o fazer música criativa na sala de aula desenvolvidas durante este mesmo período. São os artigos de Chris Philpot, Victoria Kinsella & Martin Fautley, Gary Spruce, Susan Young e Ambrose Field que se debruçam sobre conceções, valores, ideologia e criatividades na educação musical. De imprescindível leitura.

Mas é na terceira parte do livro que nos vamos reter mais tempo, uma vez que ao trabalho teórico e crítico da segunda parte, é dado agora um contexto prático. Com base nas ideias fundadoras de Paynter, apresentam-se uma série de projetos concebidos e desenvolvidos por professores no terreno.

Tal como referido por Paynter, também os projetos aqui selecionados representam formas de pensar sobre fazer música criativa, e são tomados não como projetos acabados, mas apenas como pontos de partida. São os professores que os põem em prática que os orientam, de acordo com as suas realidades educativas. Os dezasseis projetos apresentados neste livro combinam modos práticos de explorar o processo de fazer música, reflexões, as suas relações com a natureza da música e a sua existência no mundo. Assim, nesta apresentação, cada projeto estabelece um ponto de partida e tem em conta os tópicos identificados por letras que funcionam como organizadores da sua apresentação. São eles os seguintes:

  1. O processo de criação de ideias práticas que os professores podem explorar;
  2. Exemplos de trabalhos atuais produzidos;
  3. Referência ao amplo mundo da música;
  4. Vivência do significado cultural do trabalho.

Os projetos procuram abranger, de forma integrada, um vasto campo de criatividades da música na sala de aula, reconhecendo os desenvolvimentos que têm sido feitos ao longo destes anos e que incluem: composição, improvisação, interpretação, criatividade e pensamento crítico, reação à música e uso de tecnologias.

As temáticas musicais práticas apresentadas são diversas: 1) formas de notação e as implicações na realização musical; 2) o potencial das palavras como estímulo para som e ritmos; 3) a função política da música e como através das palavras e música se criam e até manipulam emoções; 4) processos de fazer música para um determinado espaço; 5) explorações musicais a partir de lugares reais ou imaginários; 6) criação de paisagens sonoras para a comunidade; 7) a composição musical em grupo através de um loop sampler; 8) explorar musicalmente um caderno de desenhos, uma biblioteca de possibilidades; 9) repetições e refrãos para criar compor, improvisar a partir de uma única ideia musical; 10) a composição musical através do processo de “design simultâneo”, ou seja, grupos diferentes a trabalharem áreas musicais diferentes para um mesmo produto musical; 11) improvisar com base no conceito de “revisionismo musical”, ou seja, a partir de uma ideia musical pré-existente; 12) camadas e repetição de padrões musicais como estratégia para a composição em grupo; 13) solo de um minuto, criação de fragmentos musicais que tenham um elevado nível de intenção comunicativa, a partir de três grupos de três notas; 14) chuva (tipos de chuva), partir de um tema para uma composição musical; 15) ”Excêntrico”, usar a análise de uma obra musical como ponto de partida para a criação musical em grupo colocando diversas limitações à própria criação; 16) “Desh” usar as técnicas de composição de outros compositores (música contemporânea) para criar situações de criação musical em grupo e pesquisar os significados das múltiplas referências culturais da música (geográficas, literárias, simbólicas, botânicas).

Através de muitos destes projetos e desta metodologia, as crianças, para além dos materiais e ideias musicais, para além dos sons e silêncios, são confrontadas com questões da vida real e temas das atualidade. Verificamos que em todos estes dezasseis projetos deste livro, a experimentação, exploração, improvisação e composição em grande ou pequeno grupo, ou mesmo individualmente, está sempre presente. Apesar do currículo da música no ensino geral em Portugal ter integrado há muito a composição e a improvisação, ainda estamos muito longe de encontrar nas salas de aula, pelas mais variadíssimas razões, essas práticas, assim como as metodologias de projeto.

O Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (2017) só é devidamente alcançado quando em comunidades de prática e de forma transversal, ou seja, em todas as áreas do conhecimento, considerar-se que isso “implica alterações de práticas pedagógicas e didáticas de forma a adequar a globalidade da ação educativa às finalidades do perfil de competências dos alunos”.
Pode a Música ser uma porta para esse caminho?

Comemoramos este mês, cinco anos de vida do Projeto Cantar Mais!
Com a missão de “Fazer do cantar uma experiência central da aprendizagem e da vida musical das crianças e jovens, proporcionando as condições necessárias para que essa experiência assuma a qualidade e frequência indispensáveis ao seu enriquecimento estético, artístico, social e pessoal na escola e na comunidade” vamos continuar a “Disponibilizar recursos artísticos e pedagógicos multimédia e tutoriais de formação para educadores e professores de modo a que a música nas escolas seja uma realidade para todas as crianças e jovens no âmbito do desenvolvimento de um currículo que proporcione experiências artísticas, musicais, sociais e culturais diversificadas e abrangentes”.

Manuela Encarnação


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Cantar Mais

Cantar Mais – Mundos com voz é um projeto da Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM) que assenta na disponibilização de um repertório diversificado de canções (tradicionais portuguesas, de música antiga, de países de língua oficial portuguesa, de autor, do mundo, fado, cante e teatro musical/ciclo de canções) com arranjos e orquestrações originais apoiadas por recursos pedagógicos multimédia e tutoriais de formação.

Saiba mais em:
http://www.cantarmais.pt/pt

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